terça-feira, 12 de outubro de 2010

A reação proporcional

Abaixo, segue a reprodução de uma parte da nota do PT de João Pessoa, assinada por seu presidente Antônio Barbosa, em resposta às questionáveis declarações de D. Aldo Pagotto via youtube, as quais eu já havia comentado em uma das minhas postagens. Reproduzo a parte da nota com a qual concordo em gênero, número e grau. Quem quiser lê-la por inteiro, é só navegar e achar!

Reproduzo a parte inicial porque ela, apesar de seu tom forte, explicita de maneira extremamente correta e coerente o papel cumprido pelo Arcebispo da Paraíba na vida política estadual.

------------------------------------------------------------

Quando o pastor vira lobo

Uma figura pública não deve se esconder atrás de seus títulos, bem como não deve confundir a fronteira que marca o fim de sua autoridade. Imperdoável também, da parte de uma figura pública que deseja angariar o respeito da sociedade, é uma conduta oportunista e leviana, cuja finalidade eleitoreira mal-dissimulada beira já o terrorismo político.

O senhor Aldo Pagotto, este infeliz representante oficial da nossa Igreja Católica, na nossa querida Paraíba, encarna, na verdade, e, desgraçadamente, o arquétipo da figura pública transviada e que, por suas repetidas e infantis provocações, acaba por tornar-se molesta para a paz social:

I. O senhor Aldo Pagotto se esconde atrás de seu título de bispo para fazer política para as forças mais reacionárias e retrógradas da Paraíba e do Brasil;

II. O senhor Aldo Pagotto excede sua autoridade de líder religioso para imiscuir-se em temas de elevada complexidade cultural, social e política, banalizando, assim, debates que de forma alguma podem ser simplificados em categorias estanques e auto-excludentes, tal qual existisse aqui o mocinho e ali o bandido;

III. O senhor Aldo Pagotto faz suas escolhas políticas e as defende publicamente, porém deturpando-as num discurso pseudo-religioso e eivado de preconceitos sociais.


(...)

------------------------------------------------------------


A nota, a partir daí, depois de declarar apoio em Dilma e Ricardo e de defender seus parlamentares da bancada religiosa, Frei Anastácio e Padre Luiz Couto, acaba se complicando, pois emprega argumentos que combate para ferir a candidatura tucana (o que tem a ver se FHC é ou deixa de ser ateu...?). O senhor Antônio Barbosa, nesse ponto, mete os pés pelas mãos na ânsia de se afirmar católico.

É, meu amigo e minha amiga, quem fala o que quer acaba lendo o que não quer...

A íntegra da nota está em:

Já disse antes e vou repretir: D. Aldo, refaz suas malas e volta para São Paulo....!!

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A volta do que não fui...!

De volta com as postagens, depois de uma pausa de quase seis meses...! Não que as idéias tenham minguado, o buraco é mais embaixo... Mas consegui defender minha dissertação, aos poucos venho voltando do autoexílio junto aos amigos e amigas, e estou conseguindo resolver uma série de questões de trabalho. As coisas estão mais tranquilas, sobra tempo pra expor opiniões que não sejam em mesa de bar pelas noites lúdicas de João Pessoa, cada vez menos frequentes para mim. Há braços, já diria Adeildo, e espero que, dessa vez, com maior assiduidade!

domingo, 10 de outubro de 2010

Oportunismo eleitoral, aborto e intolerância religiosa


O grau de oportunismo político da grande mídia e de setores conservadores da sociedade, nesse segundo turno das eleições - oportunismo já detectado durante o primeiro turno - preocupam-me e, ao mesmo tempo, deixam-me indignado.

Para limpar o meio de campo, é importante salientar uma diferença básica que, por oportunismo ou desconhecimento, acaba misturando duas coisas bem diferentes: legalização e descriminalização.

O aborto no Brasil é crime, não punível apenas em casos específicos de estupro e de risco de vida para a mãe. Caso uma mulher aborte e não se enquadre em nenhum desses dois casos, ela pode ser presa e pegar de 1 a 3 anos de prisão.

A discussão sobre a descriminalização não pretende legalizar a prática do aborto, comumente praticada em nosso país de forma precária e perigosa, em casas, em clínicas clandestinas, acarretando graves riscos à vida da mulher.

A discussão sobre a descriminalização busca tratar da questão do aborto não como um caso de polícia, mas como um problema de saúde pública. Não é uma discussão contra a vida, muito pelo contrário: é uma discussão que pretende tratar um problema histórico e real existente em nossa sociedade, que é cotidianamente deixado de lado porque não traz voto.

Nenhuma pessoa em sã consciência defende a banalização da prática do aborto, extremamente violenta e traumática para a mulher. Mas prender mulheres, geralmente sem garantias de direitos sociais concretos (à saúde, à educação, à qualidade de vida), as quais vivem em condições precárias e de maneira marginalizada, por tomarem essa opção tão traumática, é uma alternativa perversa.

Aí nos deparamos com uma série de pessoas, defensoras da vida (curiosamente, muitas dessas pessoas - nem todas, é verdade - também acreditam que "bandido bom é bandido morto"), que não fazem nenhum esforço para compreender a problemática em sua profundidade: em suas raízes socioeconômicas, e que acabam por "comprar gato por lebre". Afirmo: esse não é um problema meramente moral e ético; pelo contrário, ele perpassa questões complexas que envolvem a raiz de nossa sociedade extremamente desigual.

Muito se fala que a Dilma defendia o aborto, e que mudou sua opinião para não perder votos. Os mais atentos e cuidadosos, os que não "compram gato por lebre" e desconfiam daquilo que a partidária e conservadora grande mídia brasileira escreve e diz em defesa do PSDB e seu projeto neoliberal, podem procurar, e verão que sua declaração não fala em legalização, mas em descriminalizar a prática - isso em 2007.

Eu concordo com a descriminalização, e tenho absoluta convicção de que uma mulher não pode ser tratada como criminosa por optar em fazer um aborto. Também sei que, ao decidir por tal alternativa, ela provavelmente ampara-se em fortes razões, e não fará tal procedimento feliz e alegre, tranquila, com um sorriso no rosto: ela sofrerá muito.

E o Estado tem muita responsabilidade nisso: por não garantir políticas públicas de saúde eficazes, por fornecer uma educação básica extremamente deficitária (todos conhecem a realidade do ensino público básico - infantil, fundamental e médio - em nosso país), por realizar campanhas educativas insuficientes ou ineficientes, entre outras questões. Onde está a disciplina Educação Sexual nas escolas? Muitos pais, que inclusive fecham os olhos à questão do aborto, evitam educar os filhos sobre o sexo seguro. Isso, aos meus olhos, surge como uma grandessíssima hipocrisia.

Tais campanhas, referentes ao uso da camisinha, da pílula do dia seguinte, entre outros métodos contraceptivos, são duramente criticadas por conservadores e alguns religiosos, alheios às experiências modernas da sociedade e ao devir da história. Desculpem-me, mas crime é proibir o uso da camisinha, como faz a Igreja Católica e tantas outras Brasil afora, por fé cega, em tempos de AIDS e outras gravíssimas DSTs.

Para entornar o caldo de vez, aparece-me o "ilustríssimo" D. Aldo Pagotto, que nos quer fazer acreditar que realmente defende que a Igreja deve se apartar das questões políticas (mas que claramente fez campanha para o PSDB de Cássio e, agora, para Serra), dizer na Internet, em depoimento gravado e divulgado via Youtube, que existe uma "cultura de morte" no Brasil desde a década de 1980 - que teria encontrado no PT e no movimento feminista seu principal suporte. O cara vem utilizando aquele velho discurso do medo, afirmando que Dilma, caso eleita, vai legalizar o aborto no Brasil.

Triste daquele que compra gato por lebre.

Dom Aldo deveria se preocupar mais com suas próprias atribuições na Arquidiocese, cuidar dos seus fiéis e deixar de fazer política rasteira, utilizando a fé das pessoas tal qual um legítimo cabo eleitoral do tucanato brasileiro. As calúnias e difamações de caráter religioso já estão desviando demais o real debate político na atualidade, não precisamos de mais essa. Assim como as pastorais católicas da Paraíba, sinto falta dos tempos da coerência de D. Marcelo Carvalheira à frente da Arquidiocese Metropolitana, e acho que já passou da hora de D. Aldo fazer suas malas e voltar para São Paulo.

Assim como não precisamos de pessoas guiando seu pensamento e o seu voto baseado em preconceitos de cunho religioso que beiram o absurdo. Nessa campanha, o tema do aborto se mistura com as calúnias que vêm do desespero: denúncias e falsas acusações de satanismo e de candidatos que, caso eleitos, destruiriam templos religiosos Paraíba e Brasil afora - tudo registrado em panfletos apócrifos e nas caixas de e-mail de tantos eleitores. O candidato do PSB ao Governo da Paraíba que o diga: andam dizendo que as belas estátuas que decoram os canteiros da cidade fazem referência a satanás... uma piada de mal gosto que a intolerância de algumas pessoas acaba comprando.

Tudo isso me preocupa como educador e historiador. E me vem à cabeça que, se temos direitos civis e políticos, conquistados após muita luta e sangue derramado através de nossa história, que os valorizemos! Precisamos aprender a lhes dar o devido valor, para que não cometamos os mesmos erros do passado.

Combatamos a intolerância religiosa e a cegueira política, que tanto atrasam a vida de muita gente.