Não seria exagero elevar à condição de gênero cinematográfico alguns filmes de terror com uma temática tão específica? Penso que não, mas esse assunto ficará guardado para outra hora. Para o momento, basta nos lembrar de um filme obscuro, feito com baixo orçamento em 1968 que foi o marco inicial desse gênero. Filmado em preto-e-branco de forma independente, Night of the Living Dead foi escrito, roteirizado e dirigido por George A. Romero, e marcou definitivamente a história dos filmes de terror tanto quanto – arrisco dizer – as películas de Alfred Hitchcock.
Pôster original de Night of the Living Dead (1968), o precursor do Gênero de Zumbis na 7ª arte
Em sua trilogia clássica sobre zumbis (Night of the Living Dead, Dawn of the Dead e Day of the Dead), Romero utiliza o contexto de uma catástrofe não-explicada, uma infestação de zumbis que levou os mortos a se levantarem e a atacarem os vivos de forma completamente irracional, para trabalhar questões da mente e do comportamento humano, tanto no plano individual como no plano coletivo.
Como agiriam as pessoas em situações de pressão como essa? Será que os instintos básicos de sobrevivência tendem a se sobrepor à solidariedade humana? Até que ponto nossos comportamentos consumistas guiam nossas ações? Romero sempre utilizou os zumbis como pretexto para analisar seus personagens extremamente humanizados, com todos os seus defeitos e virtudes.
Zumbilândia (2009), recentemente em cartaz nos cinemas brasileiros, é um filme que segue a tradição do gênero iniciado por Romero. Dirigido com Ruben Fleischer e roteirizado por Rhett Reese e Paul Wernick, possui fortes elementos de comédia que, na minha visão, servem para atingir dois principais objetivos: para ressaltar a idéia de carpe diem sempre presente, e para atenuar a carga dramática existente – que se nós paramos pra pensar, é grande, e só se evidencia em algumas situações específicas onde os protagonistas fraquejam e se despem de suas cascas protetoras.
Por exemplo, o fato de eles buscarem não se envolver inicialmente uns com os outros, não revelando seus nomes e se tratando simplesmente por seus lugares de origem, de forma alguma é um objetivo que se concretiza. Columbus, o jovem e recluso nerd sem nenhuma base estrutural familiar; Tallahassee, o parceiro durão; Little Rock e Wichita, as irmãs órfãs sobreviventes; todos eles quebram as barreiras protetoras auto-impostas em momentos de beleza singular – seja em rodas de conversas noturnas ou em momentos onde a raiva é extravasada pelo quebra-quebra de tudo que aparece na frente.
Columbus (agachado) e Tallahassee (com o taco) confraternizando em uma loja de conveniências
Assim eu percebi Zumbilândia: como um elogio à vida apesar das adversidades. Existem outros ideais incutidos, lógico, pois o filme não deixa de ser uma produção hollywoodiana e a realidade retratada é o mundo do american way of life, mas a essência é essa: aproveitar a vida, sobre todas as diversidades. Mas sem se limitar a cuidar do seu próprio jardim, conforme a conclusão individualista do pobre e ex-otimista Cândido, de Voltaire; o carpe diem só tem sentido para os personagens do filme quando seus dias são vividos entre iguais.
Quem tem medo de palhaços? Columbus tem...
O filme, além do Woody Harrelson no papel de Tallahassee, ainda conta com uma participação marcante do genial ator e comediante Bill Murray (A vida marinha com Steve Zissou - 2004, Encontros e Desencontros - 2003, Os caça-fantasmas - 1984) no papel dele mesmo. Recomendo o filme, para ser assistido de forma bem despretensiosa em um fim-de-semana tranquilo. Entretém e ainda dá o que pensar, caso você esteja disposto a fazê-lo, vendo o filme com olhos simpáticos e sem preconceitos.
E para terminar, vejam só o zombie kill of the week (do filme, é claro...!)
Apesar da temática tosca, vou me aventurar a ver esse filme depois desse post... afinal, devemos "aproveitar a vida, sobre todas as diversidades".
ResponderExcluirhehehe
Particularmente adoro o gênero terror. Acho os filmes de zumbis fascinantes, não apenas por uma satisfação comum que tenho em ver mortos-vivos, mas também porque reconheço a tradicionalidade que os filmes de zumbis guardam em relação aos filmes de horror. Zumbilândia me chamou a atenção, pois a temática central não está no horror, mas sim na comédia. O diretor teve a brilhante "sacada" (como dizem os cineastas) em vincular o terror a comédia de forma que os admiradores de ambos os gêneros cinematográficos, que a princípio parecem contrários, não se decepcionassem. Ótimo filme e excelente texto Lício. Abraço e continue com os textos!
ResponderExcluir